Convidamos a consultora e pesquisadora da área de tecnologia educacional Walquíria Castelo Branco para uma entrevista sobre o ChatGPT na escola. Confira:
ChatGPT na educação e o impacto da novidade
Desde seu lançamento, o ChatGPT é um dos temas mais comentados no cenário da educação. Como essa tecnologia vai afetar a escola? Como pode ajudar gestores e educadores? Ela é capaz de potencializar a aprendizagem?
Os impactos do ChatGPT em sala de aula ainda estão sendo dimensionados, mas já há muito o que dizer sobre a novidade. É certo que ela veio para ficar!
Sobre o funcionamento do ChatGPT, Walquíria Castelo Branco, que é doutora em educação com estágio pós-doutoral na Universidade de Helsink, destaca:
“O GPT-3 é capaz de executar tarefas como tradução de idiomas, respostas a perguntas, resumo de texto e até mesmo escrita de código. Isso é possível graças à sua capacidade de aprender a partir de grandes quantidades de dados e sua habilidade para generalizar e aplicar esse conhecimento em situações diferentes.”
Com todas essas habilidades, a repercussão do ChatGPT na educação já pode ser sentida. A pesquisadora conta:
“O uso de IA na educação já está disseminado em diversas instituições de ensino e aplicativos que são usados pela comunidade escolar. Plataformas como Khan Academy, Duolingo, o pacote office com o copilot que está sendo lançado, midijourney, dall-e e tantos outros estão nas rotinas de milhões de pessoas e não tem como impedir os estudantes de usá-los.”
Gestores e educadores receberam a novidade com entusiasmo e curiosidade, mas também há preocupação diante dos desafios que essa utilização pode trazer. Afinal, quais são os limites já mapeados do uso do ChatGPT na educação?
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Limites do ChatGPT em sala de aula
Tecnologias de inteligência artificial, como o ChatGPT, são capazes de se aproximar da comunicação humana, apresentando informações de forma estruturada e com uma agilidade impressionante. Como Walquíria Castelo Branco explica:
“Ele usa sua compreensão da linguagem natural para gerar texto que seja coerente e semântico, produzindo resultados que podem ser muito semelhantes aos escritos por um ser humano. “
Contudo, há limites nessa similaridade. No caso das produções escritas, Walquíria ressalta:
“O GPT-3 utiliza uma técnica de "completamento de texto". Isso significa que, dada uma entrada de texto inicial, o modelo tenta prever qual seria o texto mais provável para completar a frase. Por isso não espere respostas 100% corretas, pois estamos no campo da estatística e da probabilidade.
Como modelo de linguagem, o ChatGPT pode fornecer respostas com base em sua programação e na qualidade dos dados usados para treiná-lo. É importante lembrar que ele não possui conhecimento humano real ou senso comum.”
Dessa maneira, a mediação do uso do ChatGPT em sala de aula é indispensável, assim como o investimento na formação do senso crítico, para que estudantes possam averiguar e questionar as respostas apresentadas pelo robô.
A pesquisadora também destaca desafios éticos. Para ela, a tomada de decisão na escola “não pode ser delegada para outrem e muito menos ainda para máquinas.”
E finaliza: “as discussões de natureza ética estarão sempre presentes e cada vez mais, sendo o ChatGPT e algumas das suas respostas uma boa fonte para essas discussões.”
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Como a escola pode se apropriar do ChatGPT com qualidade?
Com variadas possibilidades de aplicação, o uso do ChatGPT em sala de aula pode apoiar educadores e gestores pedagógicos no dia a dia, potencializando suas práticas. A pesquisadora sugere possíveis usos:
“Desde a elaboração de um plano de aula, a sugestão de alguma tarefa mais específica: ainda é a melhor forma do educador ou da educadora conhecer a ferramenta e dela se apropriar para tarefas coletivas com os seus estudantes.
Propor atividades para que eles ou elas façam em suas casas e apresentem sumário [o GPT faz sumário], até sugerir um tema e deixar que explorem. Contudo, o diálogo deve ser realizado entre estudantes e docente. A sugestão é que os docentes explorem conjuntamente.”
O ChatGPT em sala de aula pode também ser usado como uma fonte de pesquisa para estudantes e educadores, além de outros usos criativos. Walquíria Castelo Branco sugere:
“Perguntem ao chat como fazer, afinal ele tem uma base de dados gigantesca que nenhum docente sozinho ou no coletivo tem. Outra vantagem é que o software é muito fácil e simples de ser usado.
Os chatbots e a IA têm o potencial de transformar a maneira como os alunos aprendem e os professores ensinam.
Por exemplo, chatbots educacionais podem ser usados para auxiliar os alunos a tirar dúvidas em tempo real ou fornecer feedback personalizado sobre o desempenho do aluno. A IA também pode ser usada para personalizar o ensino com base nas habilidades e necessidades individuais.”
Mediação do ChatGPT em sala de aula
A mediação tem um papel muito importante na introdução de uma nova tecnologia educacional no processo de ensino e aprendizagem. Então, como mediar o uso do ChatGPT em sala de aula? A pesquisadora dá dicas importantes:
“A mediação do docente será necessária na listagem das fontes de pesquisa dos estudantes, nas indicações dos especialistas e na formação para que os estudantes consigam separar quais são os dados essenciais da sua investigação e como obtê-los.”
Inclusive, ela indica um caminho inovador para validar as informações geradas pelo ChatGPT em sala de aula, ainda usando a ferramenta como recurso. Ela diz: “o próprio GPT pode auxiliar o professor a construir scripts de validação com os seus alunos.”
Acompanhar o uso da turma, ensinando a fazer perguntas bem construídas e que fortaleçam o pensamento crítico, é essencial para uma mediação de qualidade. Para a pesquisadora:
“Os chatbots podem ser uma ferramenta útil para fornecer respostas rápidas às perguntas dos alunos e auxiliar no processo de ensino. No entanto, é importante lembrar que essas ferramentas não devem substituir a interação humana e a orientação do professor.”
Com base nisso e pelo fato do ChatGPT já ser parte da nossa realidade, cabe também à escola um papel cidadão na mediação do uso dessa tecnologia. Segundo a pesquisadora:
“O algoritmo de inteligência artificial não é apenas uma ferramenta técnica mas a sua aplicação tem o poder de moldar o imaginário, produzir desejos e induzir comportamentos. Não é uma ferramenta passiva, ela tem uma atuação e aprende a partir de modelos estatísticos. Ele é técnico e social ao mesmo tempo.
O cidadão precisa desse tipo de letramento. A escola deve fazer esse letramento, não só dos estudantes, mas dos educadores. É um letramento no sentido de como usá-lo e criá-lo, os limites éticos do seu uso, as desigualdades que podem ser aumentadas para quem não estiver inserido nesse contexto. É um letramento da cultura digital tão necessário para a cidadania."
Gestores e educadores, esperamos que esse conteúdo tenha aprofundado o debate sobre o ChatGPT em sala de aula. Que tal aprender comandos do Chat para facilitar os processos da gestão escolar? Veja como fazer clicando aqui. Até a próxima!
Walquíria Castelo Branco Lins é doutora em educação, com formação básica em filosofia, tecnologia aplicada na educação e sistema de informação. Realizou estágio pós-doutoral com o professor Engeström na universidade de Helsinki, Finlândia, onde trabalhou com o tema de design de aprendizagem expansiva e inovação. É especialista em IA e ciência de dados. É sócia da consultoria Dados & Prosas, especializada em pesquisas quali e quanti voltadas para a educação e formação de educadores. Nos últimos 20 anos tem trabalhado com design de serviços, inovação na educação e tecnologias no ensino da matemática em institutos de inovação e universidades públicas.
Mediação do ChatGPT em sala de aula
A mediação tem um papel muito importante na introdução de uma nova tecnologia educacional no processo de ensino e aprendizagem. Então, como mediar o uso do ChatGPT em sala de aula? A pesquisadora dá dicas importantes:
“A mediação do docente será necessária na listagem das fontes de pesquisa dos estudantes, nas indicações dos especialistas e na formação para que os estudantes consigam separar quais são os dados essenciais da sua investigação e como obtê-los.”
Inclusive, ela indica um caminho inovador para validar as informações geradas pelo ChatGPT em sala de aula, ainda usando a ferramenta como recurso. Ela diz: “o próprio GPT pode auxiliar o professor a construir scripts de validação com os seus alunos.”
Acompanhar o uso da turma, ensinando a fazer perguntas bem construídas e que fortaleçam o pensamento crítico, é essencial para uma mediação de qualidade. Para a pesquisadora:
“Os chatbots podem ser uma ferramenta útil para fornecer respostas rápidas às perguntas dos alunos e auxiliar no processo de ensino. No entanto, é importante lembrar que essas ferramentas não devem substituir a interação humana e a orientação do professor.”
Com base nisso e pelo fato do ChatGPT já ser parte da nossa realidade, cabe também à escola um papel cidadão na mediação do uso dessa tecnologia. Segundo a pesquisadora:
“O algoritmo de inteligência artificial não é apenas uma ferramenta técnica mas a sua aplicação tem o poder de moldar o imaginário, produzir desejos e induzir comportamentos. Não é uma ferramenta passiva, ela tem uma atuação e aprende a partir de modelos estatísticos. Ele é técnico e social ao mesmo tempo.
O cidadão precisa desse tipo de letramento. A escola deve fazer esse letramento, não só dos estudantes, mas dos educadores. É um letramento no sentido de como usá-lo e criá-lo, os limites éticos do seu uso, as desigualdades que podem ser aumentadas para quem não estiver inserido nesse contexto. É um letramento da cultura digital tão necessário para a cidadania."
Gestores e educadores, esperamos que esse conteúdo tenha aprofundado o debate sobre o ChatGPT em sala de aula. Que tal aprender comandos do Chat para facilitar os processos da gestão escolar? Veja como fazer clicando aqui. Até a próxima!
Walquíria Castelo Branco Lins é doutora em educação, com formação básica em filosofia, tecnologia aplicada na educação e sistema de informação. Realizou estágio pós-doutoral com o professor Engeström na universidade de Helsinki, Finlândia, onde trabalhou com o tema de design de aprendizagem expansiva e inovação. É especialista em IA e ciência de dados. É sócia da consultoria Dados & Prosas, especializada em pesquisas quali e quanti voltadas para a educação e formação de educadores. Nos últimos 20 anos tem trabalhado com design de serviços, inovação na educação e tecnologias no ensino da matemática em institutos de inovação e universidades públicas.