Mais um ano se encerra e milhões de jovens brasileiros deverão enfrentar as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) nos próximos dias. Só que esse não é um ano qualquer. Como sabemos, as dificuldades impostas pela pandemia para grande parte dos estudantes brasileiros tornam essa prova um grande desafio.

O contexto das aulas online, depois híbridas e agora presenciais, somado às dificuldades de acesso digital, com as condições econômicas e sociais prejudicadas, tornam a tarefa quase que impossível para grande parte dos jovens, muitos terminando o Ensino Médio sem dominar boa parte dos conteúdos pelos quais serão cobrados no exame. 

Enem e Educação Midiática

Diante desse quadro, é interessante que se pergunte em que a Educação para as Mídias pode auxiliar esses jovens a enfrentar esses desafios no contexto no qual estamos inseridos. Nesse sentido, vale retomar as competências e habilidades que a Educação Midiática ajuda a desenvolver, se usada na escola, em todos os segmentos, disciplinas e de maneira planejada e contínua. Faz parte desse escopo favorecer que o aluno aprenda a: 

• ... identificar o que é informação, fato e notícia, apropriando-se dos procedimentos jornalísticos de produção de uma notícia em qualquer suporte;

• ... diferenciar o que é desinformação, ficção e fake news, aprendendo a reconhecer a manipulação de dados e fatos;

• ... utilizar um conjunto de conteúdos estratégicos que lhe permita exercitar a leitura e a escrita crítica, reconhecendo-se como leitor e escritor que produz conteúdos; 

• ...checar as informações, notícias e conteúdos que lê, escreve, curte e compartilha por meio de diversas técnicas e procedimentos;

• .... reconhecer e utilizar os diferentes elementos que compõem as diferentes linguagens das mídias digitais:

• ... compreender as motivações que levam as pessoas a publicarem e interagirem nas mídias sociais;

• ... ler e se expressar em múltiplas linguagens para compartilhar conteúdos com responsabilidade e criticidade;

• ... contribuir para a produção de um conjunto de sites confiáveis (curadoria) para pesquisa de informações e notícias;

• ... contribuir para tornar o ambiente online mais amigável, participativo, justo e sustentável.

Preparação desde cedo

Como se pode verificar, são competências e habilidades que vão ajudar esse aluno a se posicionar como um cidadão, tornando-se responsável no universo em que trafega, seja ele on e/ou off line.

Se desde cedo ele exercita esses comportamentos leitores e escritores na escola, é muito provável que, ao chegar no ENEM, tenha conseguido não apenas dominar os conteúdos didáticos das disciplinas, mas sobretudo, apropriar-se do sentido deles na construção do seu conhecimento, o que vai lhe garantir a compreensão dos enunciados da prova, a escrita de uma redação que contenha suas ideias e argumentos estruturados de maneira clara e pertinente, por exemplo.

A importância da leitura

A edição 2018 do Pisa, a prova mundial que mede o desempenho dos estudantes em leitura, matemática e ciências, revelou que menos de 1 em cada 10 alunos dos 80 países avaliados conseguiu distinguir fatos de opiniões, considerando conteúdos implícitos no texto e fontes da informação.

O foco desta edição foi a leitura, com ênfase na capacidade de encontrar, comparar, contrastar e integrar informações entre várias fontes. De acordo com o relatório publicado pela OCDE, os alunos com melhor desempenho precisaram ir além da capacidade de entender e comunicar informações complexas, tendo que distinguir fato de opinião ao ler sobre um tópico desconhecido, e também compreender textos longos e que tratassem de conceitos abstratos ou contra-intuitivos.

Leia também nosso artigo sobre Educação Midiática e a BNCC

Universo digital e educação midiática

Como parte do Projeto Educação 2030, já na edição de 2024 o objetivo do PISA será avaliar o preparo dos jovens para se comunicarem no universo digital. Ou seja, os conteúdos trabalhados por meio da Educação Midiática serão as grandes ferramentas para a aquisição dos conhecimentos necessários para esses jovens responderem aos desafios de seu tempo.

É bom frisar que estamos falando da aquisição dessas competências e habilidades em situações normais e não de exceção. Em contextos em que as desigualdades em diferentes níveis, como essas que vivemos no Brasil, não sejam tão gritantes. Porém, essas situações podem e devem ser usadas com o propósito de arregimentar diferentes recursos para que possam ser mitigadas.

Cada vez mais, essas experiências com as mídias e o conhecimento do funcionamento do universo digital é o que fará a diferença na vida dos nossos jovens. Como diz David Buckingham, professor e pesquisador de Educação para as Mídias

“A alfabetização midiática não é simplesmente uma questão de saber como usar dispositivos específicos, para acessar ou criar mensagens de mídia. Também deve envolver uma compreensão crítica profunda de como essas mídias funcionam, como se comunicam, como representam o mundo e como são produzidas e usadas. Compreender a mídia hoje exige que reconheçamos a complexidade das formas modernas de 'capitalismo digital'. E se realmente queremos que os cidadãos tenham conhecimento da mídia, precisamos de programas abrangentes, sistemáticos e sustentados de educação para a mídia como um direito básico para todos os jovens."

Prepará-los para o Enem, portanto, passa, inquestionavelmente, pela Educação Midiática.